Redação Rios
MANAUS (AM) – Três mulheres com trajetórias marcantes na dança retornam ao palco em um processo criativo que celebra o tempo, o corpo e a potência da experiência. Cléia Alves, de 57 anos, Susanna Cláudia, de 61, e Jeanne Abreu, de 69, integram o projeto “O Tempo no Corpo”, um Ateliê de Criação idealizado e dirigido por Francis Baiardi. A iniciativa resultará na criação de solos autorais das três artistas, com apresentação marcada para agosto, em evento gratuito com data e local a confirmar.
A proposta nasceu do desejo de valorizar trajetórias muitas vezes esquecidas na cena artística: corpos longevos que seguem pulsando dança. Francis Baiardi, referência na dança amazonense, é quem conduz o processo. Com uma trajetória dedicada à valorização da arte e à preservação da memória cultural local, ela atua como propositora, pesquisadora, professora e diretora artística do Ateliê.
“Estamos trazendo à tona a história, a memória e a resistência de mulheres que continuam ativas e potentes na arte, mesmo diante das dificuldades e do etarismo. A arte não envelhece, e o corpo que dança carrega sabedoria, potência e beleza que precisam ser celebradas”, afirma.
Corpo, arte e resistência
Cada artista desenvolve um solo próprio, partindo de suas vivências e da escuta sensível do corpo. Para Cléia Alves, o reencontro com a dança tem sido também um retorno a si mesma. “Estou em imersão nesse processo criativo, com práticas somáticas e improvisações. Esses encontros nos proporcionam conexões e reconexões”, conta.


Desde o seu último espetáculo, voltar a se preparar para o palco tem sido, para ela, uma vivência essencial para seguir ativa artisticamente. Com trajetória múltipla, ela já foi B-Girl nos anos 1980, estudou balé, capoeira, dança afro e dança moderna na Bahia, e também atuou como poetisa, percussionista e cantora.
Reencontro com a dança
Susanna Cláudia retorna aos palcos após anos afastada, num processo de redescoberta. Com passagem pela ginástica olímpica, capoeira e danças populares como coco, carimbó e samba, ela considera o projeto uma oportunidade única. “Receber esse convite foi um desafio e uma emoção enorme. É difícil ser vista com nossa idade, mas aqui estou reaprendendo e trazendo à tona uma memória que parecia adormecida. A cada encontro, me sinto renovada”, diz.
Jeanne Abreu também integra o projeto e traz à cena suas experiências como mulher, artista e educadora. Aos 69 anos, ela mergulha na criação de seu solo com o desejo de provocar reflexão e sensibilidade por meio da dança.


Minidoc
Além das apresentações, o projeto contará com um minidocumentário que registra o processo criativo e presta homenagem a uma figura fundamental da dança no estado: Ana Mendes, professora e bailarina com mais de 25 anos de atuação. “Desde o início, quis trazer referências da dança do nosso Estado. A Ana Mendes é uma dessas figuras potentes. Precisamos olhar para essas mulheres e reconhecer sua importância”, afirma Francis.
Ao destacar a potência da maturidade em cena, o projeto O Tempo no Corpo lança luz sobre um tema urgente: a valorização de corpos longevos na arte. Em um universo que historicamente marginaliza a velhice, o trabalho de Francis Baiardi e suas parceiras é um gesto de resistência, e reconhecimento. Celebrar essas histórias é também ampliar o futuro da dança, garantindo que o talento e a expressão não tenham prazo de validade.
*Com informações da Assessoria












