Elen Viana e Fábio Leite – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O Campeonato Amazonense de 2025 conta com a participação de oito clubes da capital e do interior do estado. No entanto, um fato chama a atenção: cinco das equipes participantes são de novos clubes que foram criados na última década, e três são times tradicionais do futebol local.
Dentre os times com longa trajetória e que fazem parte do Barezão deste ano, estão Nacional, com 112 anos de história, seguido pelo São Raimundo, com 106 anos e pelo Princesa do Solimões, fundado há 53 anos.
Leia também: Confrontos dos playoffs do primeiro turno do Barezão são definidos
Por outro lado, os clubes novos dominam a competição na Séria A do Barezão. O Sete FC foi fundado em 2022, o RPE Parintins em 2021, o Manauara em 2020, o Amazonas FC em 2019 e o Manaus FC em 2013.

Cada vez mais os clubes tradicionais vêm perdendo espaço no futebol amazonense com a ascensão nos novos times, principalmente com os feitos conquistados por Amazonas e Manaus nas séries B, C e D.
Nos últimos 10 anos, sete títulos do Barezão foram conquistados por Manaus (6) e Amazonas (1), contra uma conquista de Fast, Nacional e Penarol. O Leão da Vila Municipal, maior campeão da competição com 43 títulos, não vence o Campeonato Amazonense desde 2015.
Segundo especialistas entrevistados pelo Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o crescimento dessas novas equipes está diretamente ligado ao investimento e à organização financeira. Enquanto isso, os clubes tradicionais enfrentam dificuldades financeiras e dívidas acumuladas ao longo dos anos, o que limita sua competitividade.
O apresentador do Esporte Rios, na Rádio RIOS FM 95,7, Keynes Breves explica que os problemas financeiros são o principal entrave para a recuperação dos clubes mais antigos, já que muitas verbas destinadas ao futebol acabam retidas pela Justiça devido a dívidas trabalhistas.
“Os clubes tradicionais têm muitas dívidas e dificuldade para quitá-las. Quando recebem uma verba do governo ou da prefeitura, esse dinheiro é diretamente retido na fonte pela Justiça trabalhista, o que impossibilita investimentos no futebol. O Rio Negro, por exemplo, vem se arrastando há anos, com brigas internas entre oposição e administração. O resultado disso é a falta de dinheiro e de investimentos”, explica o jornalista.
O São Raimundo, que voltou à primeira divisão do Barezão em 2024, tenta equilibrar as contas. O presidente do clube, Josimar Alves, revelou que a dívida do Tufão da Colina chega a R$ 2 milhões e que a diretoria busca soluções para quitá-la.
Em 2022, quando o São Raimundo disputou a Copa do Brasil, o clube recebeu apenas 30% da premiação por participar da primeira fase. A Justiça bloqueou R$ 392 mil do valor total de R$ 560 mil, devido a um processo movido pela Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol (Fenapaf).

Burocracia e entraves políticos
Além dos problemas financeiros, os clubes tradicionais enfrentam dificuldades estruturais para modernizar sua gestão. O jornalista Leanderson Lima destaca que a burocracia dentro dessas equipes torna a tomada de decisões mais lenta, dificultando a evolução do futebol local.
“Os clubes tradicionais têm amarrações políticas muito fortes. As decisões precisam passar por conselhos, sócios e dirigentes, o que gera demora e impede mudanças rápidas. Muitos dos novos dirigentes que tentaram atuar nesses clubes enfrentaram dificuldades justamente por conta dessa burocracia. Diante desse cenário, eles decidiram fundar seus próprios clubes”, analisa o jornalista.
Estratégias para atrair torcedores
Os clubes emergentes adotaram estratégias para atrair torcedores e fortalecer suas marcas. Um exemplo disso foi o Manaus FC, que no início de sua trajetória distribuiu ingressos gratuitos para incentivar o público a comparecer aos jogos.

“O primeiro clube dessa nova geração que se destacou foi o Manaus FC, fundado em 2013. No começo, ele foi ridicularizado porque distribuía ingressos para atrair torcedores. Ganhou apelidos depreciativos como ‘Cortesia FC’ e ‘Mitoso FC’. Mas, com o tempo, a estratégia deu certo. A partir disso, surgiram outros clubes como o Amazonas FC, que adotou a mesma abordagem”, explica Lima.
Tendência nacional
O presidente honorário do Manaus FC, Luís Mitoso, ressalta que essa ascensão dos novos clubes não é um fenômeno exclusivo do Amazonas, mas reflete um movimento nacional de renovação no futebol. Ele destaca que a chegada dessas novas equipes incentiva os times tradicionais a se modernizarem.
“A queda dos clubes tradicionais não acontece apenas no Amazonas, mas nacionalmente. O surgimento do Manaus FC foi um despertar para a necessidade de inovação. Isso incentiva os clubes históricos a investirem mais, pois eles têm camisa e história. Esse movimento fortalece o futebol amazonense”, afirma o presidente.

Já o presidente do Princesa do Solimões, Lázaro D’Ângelo, destaca que a falta de investimentos tem sido determinante para a queda de times como Fast Clube, Penarol e Rio Negro.
“Vejo que a principal diferença está no investimento. Infelizmente, hoje não temos clubes como Rio Negro, Penarol e Fast Clube, que sempre atraíram bom público e fizeram grandes jogos. O problema é que o dinheiro agora está nos novos clubes, que contam com investidores dispostos a apostar no futebol”, diz Lázaro.
Enquanto os times tradicionais tentam reestruturar suas finanças e modernizar sua gestão, os clubes emergentes aproveitam para consolidar seu espaço.












