Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAS (AM) – Pesquisa do Instituto Veritá divulgada, na semana passada, mostra que mais da metade dos moradores de Manaus estão insatisfeitos com a qualidade de vida na capital amazonense.
O levantamento, realizado entre 22 e 26 de agosto, entrevistou 2.010 eleitores e registrou uma insatisfação geral de 63% (51,4% insatisfeitos e 11,6% muito insatisfeitos) com a qualidade de vida na cidade.
Jovens são os mais insatisfeitos

Entre os grupos etários, os mais jovens demonstraram o maior nível de descontentamento. Dos entrevistados com idade entre 16 e 24 anos, 57,2% declararam-se insatisfeitos e 8,1% muito insatisfeitos, totalizando 65,3% de insatisfação. Já entre os adultos de 25 a 34 anos, a insatisfação também é expressiva, com 60,8% indicando descontentamento com a qualidade de vida em Manaus.
Os mais velhos, por outro lado, mostraram-se relativamente menos insatisfeitos. Entre aqueles com 60 anos ou mais, 39,9% afirmaram estar insatisfeitos e 9,6% muito insatisfeitos, totalizando 49,5% de insatisfação.
Essa diferença entre as faixas etárias pode indicar que os mais jovens estão mais exigentes ou enfrentam desafios específicos que afetam sua percepção de qualidade de vida.
Escolaridade: mais educação, mais insatisfação
A pesquisa também revelou uma correlação interessante entre o nível de escolaridade e a insatisfação com a qualidade de vida em Manaus. Aqueles com ensino superior completo ou incompleto são os mais insatisfeitos, com 61,4% expressando descontentamento.
Em comparação, 59,7% das pessoas com ensino fundamental completo ou menos também estão insatisfeitas. Esses números sugerem que a insatisfação não é exclusividade de um grupo educacional, mas está disseminada em diversos níveis de instrução.
Renda: Classe C é a mais insatisfeita

A análise da insatisfação por faixa de renda revelou que aqueles que ganham entre dois e cinco salários mínimos, a chamada Classe C, são os mais insatisfeitos, com 62% declarando se incomodar com a qualidade vida na cidade.
Os dados observados mostram que o descontentamento é geral com 54,8% das pessoas que ganham acima de 5 salários mínimos também estão insatisfeitas, e 59,8% dos que ganham abaixo de dois salários mínimos. Esses dados indicam que a insatisfação está espalhada por todas as faixas de renda, mas é especialmente alta entre a Classe C.
Visão de especialista
O professor universitário da Ufam, doutor em História e sociólogo pela UNESP, Luiz Antonio de Nascimento, destacou que a alta insatisfação com a qualidade de vida em Manaus, especialmente entre os jovens, reflete uma cidade que não é pensada para esse grupo.
Ele observou que “a cidade é hostil para crianças, jovens e adolescentes” e que a falta de espaços públicos adequados contribui diretamente para esse descontentamento. “Não existem, por exemplo, espaços de sociabilidade onde crianças possam brincar, correr, andar de bicicleta”, afirmou.
Além disso, ele apontou que a cidade não oferece perspectivas futuras, com poucas oportunidades de emprego e falta de políticas de incentivo ao empreendedorismo juvenil. “Me dói na alma ver os nossos alunos concluindo seus estudos, sem expectativas, sem concursos públicos, sem políticas de financiamento”, ressaltou.
Segundo o especialista, esse cenário é especialmente preocupante para a Classe C, que enfrenta dificuldades econômicas e limitações no acesso a produtos e serviços. “Quase 70% de insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a cidade”, disse o doutor Luiz Antônio, justificando o elevado índice de descontentamento.
Ranking qualidade de vida
Manaus ocupa o 9º lugar entre as 27 capitais com as piores condições de vida, de acordo com o Índice de Progresso Social (IPS) de 2024. Este índice utiliza 52 indicadores para avaliar o atendimento às necessidades da população.
Para classificar as capitais, o IPS considera necessidades humanas básicas, fundamentos para o bem-estar e oportunidades para os moradores, incluindo aspectos como Água e Saneamento, Moradia, Segurança, Acesso à Informação e Comunicação, Saúde e Bem-estar, e Acesso à Educação Superior.
Desenvolvido pela organização Social Progress Imperative, o Índice de Progresso Social mede o desempenho social e ambiental de países, estados, municípios e comunidades. Desde 2014, a organização publica anualmente o IPS Global, que avalia 170 países.
Sobre a Pesquisa
A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número AM-02226/2024 e teve como contratante o próprio Instituto Veritá. Com uma margem de erro de 2,5 pontos percentuais, o levantamento foi realizado através de entrevistas individuais com uma amostra representativa do eleitorado de Manaus.
Os dados apresentados indicam uma percepção negativa generalizada da qualidade de vida em Manaus, com destaque para a insatisfação entre os jovens, pessoas com maior nível educacional e a população da Classe C.
Esses resultados podem refletir as dificuldades enfrentadas pela população manauara em diferentes áreas, como segurança, mobilidade urbana e infraestrutura, e sugerem um cenário desafiador para os gestores públicos na busca por soluções que melhorem a qualidade de vida na cidade.












