Letícia Rolim – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A poucos centímetros da maior seca já registrada em Manaus, a estiagem tem causado grandes desafios para quem depende das águas para seu trabalho e sustento. No lago do Aleixo, o baixo nível do rio Negro tem afetado muitos trabalhadores que dependem da pesca e do transporte, além dos flutuantes destinados ao lazer.
Localizado no bairro Colônia Antônio Aleixo, na zona Leste de Manaus, o lugar sofre com as consequências da vazante. A situação atual permite que, até quem antes passava com canoas e barcos pelo rio, caminhe agora por onde antes havia bastante água.
O rio Negro alcançou na manhã desta quinta-feira, 3/10, o registro de 12,77 metros, sete centímetros da seca recorde de 2023, quando o afluente atingiu a cota de 12,70 metros.
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Conforme explica a garçonete Valéria Rodrigues, os moradores da região que dependem da travessia pelo lago para acessar serviços e comércios enfrentam inúmeras dificuldades, assim como ela.
“Nessa época, a gente atravessa pelo riozinho. Mas quando o nível sobe, precisamos pagar o catraieiro, que custa cerca de três reais. Quando o rio seca, fazemos a travessia a pé diariamente. Do lado de cá do bairro, há mais opções de mercados e serviços que procuramos”, disse a moradora.
“Eu costumo passar por aqui umas duas vezes ao dia, mas muitos moradores fazem essa rotina todos os dias, já que aqui tem hospital, escola e alunos que estudam na região, então precisam atravessar todo dia”, acrescentou.
O que antes era uma travessia feita por catraieiros – profissionais que transportam pessoas em pequenos barcos – agora se tornou um percurso onde muitos precisam arrastar canoas ou até caminhar, devido à baixa do rio.
Turismo
A situação não só afeta o transporte, mas também impacta diretamente a economia local, prejudicando atividades como a pesca e o turismo, que dependem dos recursos naturais.
Devido à estiagem, as atividades no lago do Aleixo foram paralisadas, e os flutuantes destinados ao lazer e os barcos que antes faziam o transporte de pessoas ficaram inutilizados.

O que antes era coberto pelo rio agora é apenas mato e um pequeno córrego, e que, inclusive, deve secar nos próximos dias.
O autônomo e pescador Clemerson de Castro aponta as adversidades que surgem com a seca do lago do Aleixo.
“Este caminho é melhor porque é mais fácil e rápido. Ir por terra é uma volta enorme e não dá para fazer a pé. Para quem vive só da pesca, a situação é ainda mais complicada”, relatou Clemerson.
Dificuldades
Os moradores ressaltam as dificuldades de locomoção após o rio Negro atingir a segunda maior estiagem da história, faltando poucos centímetros para atingir o menor nível já registrado na capital amazonense.

O pescador Clemerson de Castro explica que precisou construir uma rampa para facilitar na a travessia para pegar os ovos que vende onde mora.

“Precisamos atravessar para o outro lado, e isso complica bastante a nossa vinda para cá. Eu pego ovos para vender, e quando chego, enfrento grandes dificuldades. Precisamos arrastar os botes por uma lombada que tem lá, quase 100 metros, só para conseguir chegar aqui. Tem pessoas que fazem isso todos os dias; eu venho apenas duas vezes por semana para pegar minha mercadoria”, contou.

O morador e autônomo Hervaldo Pereira, que foi ao local para fazer compras, teve que arrastar a canoa para levar tudo: as sacolas e a botija de gás.

“Precisamos arrastar a canoa de fora até aqui. Vim fazer compras, e na volta, vamos arrastar de novo para onde moramos. Tento fazer esse trajeto só no final do mês, quando vou às compras e recebo o Bolsa Família. Mas é assim mesmo, né? O que podemos fazer? Não há muito o que fazer”, declarou o morador.
Pescadores

Pescadores, que optaram por não gravar, compartilharam com a equipe de reportagem as dificuldades que enfrentam para manter suas atividades. Eles relataram que o caminho a ser percorrido é longo e, embora ainda consigam pescar, cada dia é desafiador.
A seca impacta economicamente a vida de quem depende do rio, sejam donos de flutuantes até os pescadores. Além de também afetar empreendimentos no entorno, pois consequentemente a movimentação cai.












