Caio Silva – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – O termo “feed zero” refere-se à prática de manter o perfil do Instagram sem nenhuma publicação visível. Essa tendência, embora pareça inusitada, tem se tornado cada vez mais comum e reflete uma mudança significativa no comportamento digital, em que a exposição excessiva dá lugar a conteúdos temporários, como os stories e as mensagens privadas.
Ao contrário das gerações anteriores, a geração Z valoriza mais a privacidade nas redes sociais e, por isso, tende a evitar perfis com muitos registros públicos.
A pandemia da COVID-19 foi um marco importante nesse processo. Durante esse período, muitos jovens passaram a refletir sobre a superexposição digital e os impactos disso em sua saúde mental. O isolamento e o maior tempo online contribuíram para esse questionamento sobre a forma como usamos as redes.
Outro fator que impulsiona esse comportamento é a disseminação de fake news e desinformação nos últimos anos. O excesso de conteúdos distorcidos levou muitos jovens a adotarem uma postura mais crítica e cuidadosa sobre o que postam e consomem.
Ezequiel Eloi, 18 anos, estudante de Jornalismo, é um exemplo dessa mudança. Ele escolheu se afastar das redes sociais e mantém apenas o WhatsApp para contato. “Tenho vários motivos para não gostar do Instagram, TikTok e X. Esses lugares criam um clima de comparação muito opressor. Já perdi muito tempo me comparando e odiando superficialidades”, desabafa o jovem.
A crescente presença da inteligência artificial também influencia essa tendência. Muitos jovens têm consciência de que suas imagens podem ser manipuladas se expostas por muito tempo na internet, o que aumenta ainda mais o desconforto com a exposição pública.
Nesse cenário, a geração Z passou a preferir formatos temporários e privados, como mensagens diretas e stories para “melhores amigos”, recursos que oferecem maior controle sobre quem visualiza o conteúdo.
De acordo com a psicóloga clínica Romena Bandeira, 47, da Clínica Escola Fametro, questões emocionais também podem levar ao afastamento das redes. “Pessoas com algum diagnóstico psicológico, por exemplo, muitas vezes se afastam das redes sociais. Isso pode ser um sinalizador emocional. Em casos como bullying virtual, é comum que esses jovens excluam seus perfis”, explica a profissional.
A mudança de paradigma evidencia um novo foco: viver o momento presente e compartilhar apenas com pessoas de confiança, em vez de buscar validação por meio da exposição constante.
Ezequiel conta como o uso excessivo do celular impactava sua vida real. “O telefone me engoliu completamente. Eu ficava só no TikTok ou Instagram. Um dia percebi que as redes sociais me afastavam mais das pessoas do que qualquer outra coisa. Via gente vivendo experiências incríveis com amigos, enquanto eu era só uma visualização. Não tinha nenhum contato real com o mundo”, relata.
O Instagram já percebeu essa tendência e lançou ferramentas como os “melhores amigos”, que permitem compartilhamentos mais seletivos e seguros. Essa transição para espaços digitais mais íntimos reflete as transformações que a geração Z está promovendo na forma de se relacionar com a tecnologia e a exposição digital.












