Amazonas está entre os 12 estados com mais pessoas no Bolsa Família do que com carteira assinada
Amazonas tem mais de 644 mil famílias atendidas pelo programa social, enquanto o número de empregos formais registrados é de apenas 562 mil, segundo os dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados)
MANAUS (AM) – O número de pessoas que recebem o Bolsa Família ainda supera o total de trabalhadores com carteira assinada em 12 das 27 unidades da federação. Entre elas está o Amazonas, onde mais de 644 mil famílias são atendidas pelo programa social, enquanto o número de empregos formais registrados é de apenas 562 mil, segundo os dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados em maio.
Amazonas lidera desigualdade entre emprego formal e dependência do Bolsa Família no Norte
A disparidade entre beneficiários e trabalhadores com carteira assinada coloca o Amazonas como o estado com a maior diferença proporcional entre os dois indicadores na região Norte. Na prática, isso significa que o número de famílias dependentes do auxílio federal supera em mais de 80 mil o número de postos formais de trabalho registrados no estado.
Outros dois estados do Norte também estão na lista. No Amapá, são pouco mais de 123 mil pessoas recebendo o Bolsa Família contra 97,9 mil trabalhadores com carteira assinada. Já no Acre, há 132,4 mil beneficiários e 111,7 mil empregos formais.
Outros estados
Os piores indicadores, no entanto, estão na Região Nordeste. O Maranhão tem 1,2 milhão de pessoas cadastradas no programa e apenas 666,9 mil com empregos formais. No Pará, são 1,3 milhão de beneficiários contra 1 milhão de trabalhadores registrados.
Na Bahia, embora existam 2,1 milhões de empregos formais, o número de famílias que dependem do Bolsa Família é ainda maior: 2,4 milhões.
Empregos formais crescem, mas pobreza estrutural persiste
Apesar do cenário preocupante, dados mais recentes apontam para uma tendência de recuperação econômica. Desde o início de 2023, o número de carteiras assinadas tem crescido no país, acompanhando a queda do desemprego, que chegou a 6,6% em abril deste ano.
No entanto, os números ainda revelam desigualdades profundas e problemas estruturais que dificultam a redução da pobreza em determinadas regiões. O economista e gestor comercial Ítalo Vieira destaca que o modelo econômico concentrado do Amazonas, aliado a dificuldades geográficas, agrava essa realidade.
“Partindo do princípio onde a estrutura econômica do Estado do Amazonas concentra-se principalmente na Zona Franca (ZFM) e no setor público, podemos observar escassez na diversificação das atividades econômicas”, afirmou.
Segundo ele, a logística limitada e o alto custo de produção comprometem o crescimento do setor privado e inibem a criação de empregos formais. Outro ponto crítico é a qualificação profissional insuficiente, que amplia o desemprego estrutural e a informalidade.
“O fato de haver mais beneficiários do Bolsa Família do que trabalhadores com carteira assinada no Estado do Amazonas revela que grande parte da população amazonense vive abaixo da linha da pobreza, dependendo da assistência do Estado para suprir necessidades básicas como alimentação, saúde e educação”, complementou Ítalo.
Mesmo diante dos desafios, ele aponta que o quadro também representa uma oportunidade de transformação, desde que haja investimentos estruturantes.
“Com investimentos em educação, infraestrutura e geração de emprego, é possível reduzir a desigualdade, ampliar a formalização do trabalho e construir uma base econômica mais sólida e inclusiva no estado“, disse.
Desigualdade regional é reflexo de distorções históricas
O economista e especialista em Gestão Empresarial, José Altamir Barroso Cordeiro, amplia a análise ao destacar que os dados refletem uma realidade histórica: a desigualdade entre as regiões brasileiras.
“Infelizmente isso é uma realidade da situação das diferenças regionais no país. O Norte e Nordeste brasileiro concentram a população que recebe dos programas sociais, tanto o Bolsa Família quanto o BPC (Benefício de Prestação Continuada) como transferência de renda“, explicou.
Para ele, esse cenário escancara a má distribuição de renda e a concentração de recursos nas regiões mais ricas do Brasil.
“Isso reflete a má distribuição de renda no país e também as distorções regionais na geração de renda. Há uma concentração de renda nos estados do Centro-Sul do país”, afirmou, ao defender a necessidade de políticas estruturantes.
Entre as possíveis soluções, ele aponta a reforma tributária como um instrumento para reequilibrar as desigualdades, embora reconheça que o processo será longo.
“Precisamos corrigir essas distorções com a política tributária. No entanto, há muito que se fazer, pois ainda iremos implantar aos poucos a reforma tributária no país”, afirma.
Cordeiro também reconhece os limites da Zona Franca de Manaus, mas reforça sua importância estratégica para a economia local.
“Mesmo a ZFM não conseguindo suprir todas as necessidades regionais, ela é muito importante na geração de empregos e renda. Por isso, é importante manter seus benefícios”, concluiu.