Gabriel Lopes – Rios de Notícias
SANTARÉM (PA) – O povo de Santarém, uma das maiores cidades do Pará, está sufocando por conta da fumaça das queimadas há quase dois meses. O município está situado no estado que será sede da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP-30), entre os dias 10 e 21 de novembro de 2025.
A situação de calamidade pública levou a população local a transformar sua indignação em ação. Na segunda-feira, 2/11, centenas de santarenos foram às ruas usando máscaras, aos gritos de “Santarém quer respirar!”, clamando por visibilidade e atenção do poder público.
Leia mais: Rio Negro está abaixo de 16 metros há mais de dois meses; banho na Ponta Negra segue proibido
Dados da plataforma BDQueimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), mostram que o estado do Pará foi o que mais registrou focos de calor no país em 2024, até esta terça-feira, 3/12, em 53.860 pontos. O Amazonas está na 3ª posição, com 25.453 focos de incêndio, metade do índice registrado no estado vizinho.
A tão esperada “COP da Floresta”, que será realizada na capital paraense, deve reunir líderes de diversos países e atores da sociedade civil para discutir formas de desacelerar as mudanças climáticas e amenizar os impactos já sentidos. Discussões essas que por vezes não chegam a resultados práticos.

Investimentos
Belém, para se ‘enquadrar’ como a cidade-sede da COP-30, tem a expectativa de receber cerca de 13 obras estruturantes, com investimentos do poder público que somam mais de R$4 bilhões, valor esse bem superior ao investido em combate às queimadas na Amazônia.
O programa União com Municípios pela Redução do Desmatamento e Incêndios Florestais na Amazônia, do governo federal, por exemplo, anunciou em abril deste ano, o envio de R$ 730 milhões a serem investidos no combate a desmatamento e incêndios florestais em 70 municípios considerados prioritários de toda a Amazônia.
No sábado, 30/11, o governador Helder Barbalho esteve em Santarém e anunciou medidas como o reforço de equipes, equipamentos e estratégias de combate aos focos de incêndio por lá e em municípios como Alenquer, Óbidos, Monte Alegre e Oriximiná, que estão entre os 10 com maior número de focos de calor no Pará.

Colapso do bioma
Para o Portal RIOS DE NOTÍCIAS, o doutor Lucas Ferrante, pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), ressaltou que o aumento das queimadas que resultam em fumaça em algumas regiões da Amazônia é consequência do enfraquecimento da legislação ambiental.

“Apesar da mudança de governo e da promessa de maior compromisso ambiental, é importante deixar claro que o governo ainda peca em alguns aspectos como rever grandes projetos de infraestrutura que fomentam estradas e também o desmatamento resultando em queimadas e na fumaça”, destacou o especialista.
O pesquisador considera extremamente necessário que o governo federal reveja algumas medidas com a finalidade de implementar uma política de desmatamento zero na Amazônia ainda no ano de 2025, a fim de ‘evitar o colapso do bioma’.
“A Amazônia está perto do limiar de desmatamento e degradação ambiental tolerados. É importante deixar claro que, apesar da COP, o Brasil não tem liderado, de fato, um esforço climático global para mitigar a crise climática”, completou Ferrante.












