Júlio Gadelha – Rios de Notícias
MANAUS (AM) – A Polícia Federal identificou ligação entre três empresários do Amazonas flagrados com R$ 1,2 milhão em malas, em maio deste ano, no aeroporto de Brasília, e o deputado federal Adail Filho (Republicanos) e o pai dele, o prefeito de Coari, Adail Pinheiro (Republicanos). A informação foi publicada pelo UOL.
O caso chegou ao Supremo Tribunal Federal (STF) após a Justiça do Distrito Federal apontar indícios de envolvimento do parlamentar federal, o que tem foro privilegiado. O processo já chegaram ao Supremo, mas ainda aguardam a definição do ministro relator.
Segundo trechos do inquérito obtidos pelo UOL, a investigação apura suspeitas de desvio de recursos públicos e lavagem de dinheiro, envolvendo os empresários, o deputado e o prefeito. A PF identificou movimentações financeiras consideradas atípicas, além de contratos públicos e repasses de emendas parlamentares ligados ao município de Coari.
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Os empresários César de Jesus, Vagner Moitinho e Erick Saraiva chegaram a ser detidos após o flagrante, mas hoje respondem ao processo em liberdade. Eles foram indiciados por lavagem de dinheiro, acusação que negam por meio da defesa.
Em manifestação anterior à PF, César de Jesus afirmou que ele e os outros dois homens são empresários dos ramos de alimentação, materiais de construção e fornecimento de vestuário, e que a viagem a Brasília teria como objetivo avaliar a compra de veículos e materiais.
Em depoimento, ele alegou que o transporte de grandes quantias em dinheiro seria comum na atividade empresarial.
“Que é comum proceder com o transporte de valores em espécie, tendo em vista a existência de facilidade no momento de pagamento de fornecedores e na obtenção de descontos”, declarou.
Contratos com a Prefeitura de Manaus
Ainda segundo o depoimento, os valores teriam origem em contratos com o poder público. “Os valores são provenientes do contrato de fornecimento de alimentos vigente junto à Prefeitura de Manaus/AM; que afirma que estava de posse de R$ 400 mil; que afirma ter procedido com os saques no decorrer desta semana”, relato trecho de depoimento.
A Polícia Federal, no entanto, aponta “falta de lastro” financeiro e suspeita que as empresas funcionem como fachadas. Para os investigadores, as empresas não apresentam estrutura compatível com os serviços prestados a prefeituras do Amazonas.
O delegado Márcio Lima, responsável pelo caso, destacou que há indícios de que o dinheiro apreendido pode estar relacionado a fraudes em contratos públicos e não descartou que os valores fossem utilizados para pagamento de propina a agentes públicos.
A investigação também identificou que empresas ligadas aos empresários indiciados mantinham contratos que somam cerca de R$ 6 milhões com a Prefeitura de Coari, administrada por Adail Pinheiro, pai do deputado federal.
Adail nega as acusações
O deputado Adail Filho nega qualquer relação comercial com os empresários. Ele afirmou ao UOL que apenas ofereceu apoio político a Vagner Moitinho, disponibilizando gabinete e motorista em Brasília, a pedido do filho do empresário, que é vereador em Presidente Figueiredo (AM). Segundo o parlamentar, essa prática seria comum com aliados políticos.
Adail Filho também declarou que não possui empresas com os investigados e que é proprietário de apenas duas empresas registradas em seu nome, negando recebimento de pagamentos ou envolvimento em contratos suspeitos.
A defesa tentou impedir o envio do inquérito ao STF, mas o ministro Alexandre de Moraes, sorteado inicialmente para analisar o caso, citou decisão da 2ª Vara Criminal do DF, que apontou indícios suficientes de participação de parlamentar federal, justificando o deslocamento do processo para o Supremo.
Já o advogado Fabrício Parente, que atua na defesa de Vagner Moitinho e de Adail Pinheiro, afirmou que empresários, deputado e prefeito são vítimas de preconceito por parte da polícia. Segundo ele, “não houve crime no transporte do dinheiro” e não existe relação do prefeito e do parlamentar com a apreensão realizada pela PF.
O Portal RIOS DE NOTÍCIAS tentou contato com os políticos citados. O deputado Adail Filho não respondeu aos questionamentos até o fechamento da matéria. Já o prefeito de Coari, Adail Pinheiro, se manifestou por meio de nota, na qual negou qualquer relação com a apreensão de R$ 1,2 milhão no aeroporto de Brasília, caso que ganhou repercussão nacional.
Segundo o prefeito, as pessoas abordadas na ação policial atuam no setor empresarial há mais de duas décadas e mantêm contratos com diversos municípios do Amazonas, inclusive Manaus.
Na nota, Adail Pinheiro também levanta suspeita de possível vazamento seletivo de informações, uma vez que a investigação corre sob segredo de Justiça, e afirma que o episódio não pode ser tratado como fato consumado sem decisão judicial, sob risco de gerar julgamento público antecipado.












